sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

feliz natal(?)


hoje não há poesia no post. não há a beleza, nem o amor, só a loucura.


o centro de são paulo em dias comuns é um lugar cheio de arquiteturas antigas, pontos turísticos e trabalhadores correndo apressados no horário de almoço. o centro de são paulo em um feriado... nem sei se não me arrependo de ter decidido passar por lá no dia do natal, dia 25, buscando meninos de rua. me deparei com um cenário deplorável, meu semblante não saía do 'absurdado' nem por um segundo. não que eu tenha sido criada em uma redoma de cristal, eu tenho alguma idéia de realidade, mas estar ali, olhando especificamente para aquilo, procurando por aquilo... que experiência foi aquela!

rodei de carro e só podia ver em cada canto daquele lugar aquela gente que a maioria das pessoas prefere nem passar por perto, alguns tão dopados que mal podiam abrir os olhos, muitos tão bêbados que se explodissem uma bomba ali ao lado nem acordariam, assim, jogados no meio da rua. crianças nesse dia havia poucas (porque provavelmente a pastoral deve tê-los recolhido pela madrugada para uma noite de natal e, logo, eles voltariam para a rua), mas ainda assim encontrei algumas.

as primeiras foram de cara as mais marcantes, eram seis, eu me lembro em detalhes do rosto de cada um deles. seis crianças, três mulheres (uma delas grávida, mal podia se mexer, ali, jogada na cama improvisada), nenhum homem, embaixo do viaduto de santa cecília. antes de atravessar a rua, já com os saquinhos de presente nas mãos, as crianças logo viram e começaram a cochichar, sorrindo. os dois mais novos (deviam ter por volta de seus dois anos) estavam deitados em cima da mulher grávida que não se mexia, dormindo o que parecia ser um sono improvisadamente eterno. os outros quatro estavam em pé. o mais falante era tão bonitinho, de cabelos cacheados e olhos verdes, parecia o mais esperto "tia, o que você tem aí?" e automaticamente eles fizeram uma espécie de fila. havia também duas meninas... como me lembro delas! uma devia ter seus três anos e a outra por volta dos cinco (era o que me parecia, não posso precisar), ambas deficientes. os pequenos rostos se tornavam grandes pela deformação, que aflição passei. mal sabia o que fazer. com aqueles rostos deformados imaginem só como não foi para a mãe a gravidez de cada uma. não pude deixar de reparar que eram mais novas que o espertinho, as coisas devem ter piorado com o tempo, mesmo que metaforicamente. por último, o mais novo dos que estavam em pé, tão sujo, fedia tanto, como todos aliás, algo que era insuportável, fedô que vai demorar a sair da minha cabeça . esperava tão ansiosamente pelo saquinho dele que, a cada vez que eu entregava um (pela ordem da fila que eles mesmo organizaram) ele esticava os pequenos e magros braços, tímidos, mas logo chegou sua vez e percebi quando estava indo embora, depois de desejar feliz natal (era difícil dizer isso percebendo quão impossível para eles seria, mas disse ainda assim), que ele foi o primeiro a abrir. aos olhos dele todos aqueles chocolates valiam o que para nós seriam barras de ouro.

outro que muito me marcou foi um que, por um momento, quase passou despercebido. estava ele deitado bem no meio da calçada, ali perto do largo do arouche, se eu não me engano. tão criança, tão moleque. com eles dormindo é que a gente vê que são só pequenos que, quando acordados, tem a inocência roubada. parei o carro, atravessei a rua e deixei o saquinho na mão dele. torço até agora para que ninguém tenha pego dele enquanto dormia.enquanto procurava, vi na praça da república um adolescente de rua, fumando, que se aproximava de um homem, aparentemente de classe média, conversavam sorrindo. um sorriso sujo! e os dois saíram andando juntos. prostituição de menores.

e assim fui pela tarde de natal, encontrei mais alguns pelos faróis, quase todos descalços. só sei que crianças são só crianças, que gostam de chocolate, apesar de muitas não serem vistas assim. confesso que em alguns momentos do dia tive medo, vergonha. mas era besteira minha, é besteira nossa, ninguém me fez sentir mal, pelo contrário, eu só me senti muito mal por eles.

3 comentários:

Anônimo disse...

É muito triste esta situação.
A gente olha nas ruas e vê os meninos de rua, enquanto todo mundo está comemorando, comendo, se divertindo, eles estão se drogando, se prostituindo. Eu me sinto muito mal de ver essas pessoas sofrerem, principalmente no Natal.
Beijão,
Carol

Anônimo disse...

aaai, que lindo isso! eu tenho mta dó das crianças assim meu... quando a gente dá uma bala as vezes eles ficam tão felizes! e é só uma bala sabe! lindo isso... me dá vontade de chorar essas coisas meu!! credo!
muito bom o texto!

Maria Eugênia Ferreira disse...

Chorei ( confesso que choro com propagandas de margarina, mas isso não vem ao caso)

o que vc fez é lindo.
a realidade não é.
nem o natal de muita gente.


e só.