quarta-feira, 19 de novembro de 2008

o início da inspiração


.......................... e ela faria quase tudo por ele. se o que dizem for verdade, se tudo que consumido em exagero faz mal, ela tem uma doença grave e incurável. ela o consome em exagero, consome a sua alma, o seu espírito. com a mente, ela consome toda a energia que ele tem. e ele a consome de loucura, assim mesmo, distante. uma intensidade escorpiana que ela não sabe se faz bem ou mal. ela só sabe que faria quase tudo por ele e não sabe dizer por quê, nem lhe interessa dizer, nem ao menos saber. basta-lhe sentir. e como não bastaria?
era julho de um ano qualquer. fim de julho. último dia das férias da escola, quando ela o viu pela primeira vez. alto, atlético. um rosto que parecia refinadamente esculpido. a pele bronzeada pelo quente sol carioca. quente, muito quente! uma fina mecha de cabelos passava pelos olhos dele, como se fosse uma orquestra clássica regida pelo vento, ditando em decorrência a direção do seu olhar, perdido na boemia.
o fato de que, se ela se interessasse naquele dia, teria que competir com garotinhas quaisquer que, por ventura, também o achariam sexy, fez o interesse quase desaparecer (por pouco tempo, claro). afinal, tal superficialidade nunca a seduziu. só um belo corpo não seria capaz de despertar a intensidade escorpiana. não foi ainda que ela adoeceu. sequer uma troca de palavras. a primeira vez que ouviu sua voz foi uma semana depois. ela ainda se lembra do timbre, do tom. ela seria capaz de decifrar a freqüência de cada sílaba. uma doçura que se contrapunha ao bambeio causado pelo que tinha consumido minutos atrás, que por sua vez se contrapunha à firmeza nas palavras. havia percebido pelo olhar uma semana atrás e, desta vez pela voz, que ele era seguro de si. ela começava então a idealizar o seu amor, mas ainda sem ter noção alguma disso.
ele voltou para casa, mas deixou com ela uma espécie de semente, que só germinaria mais tarde, num dia aleatório. eles faziam parte de um círculo comum, o que fez com que começassem a conversar, assim, à distância. a tecnologia é mesmo uma coisa esquisita, é quase inacreditável analisar que ela nunca mais o viu, mas foi aí que aquela semente deixada tempos atrás começou a germinar e ela lentamente a adoecer. cresceu inexplicavelmente ali dentro e ela não se lembra como, quando e por quê. e hoje isso a enlouquece ainda mais.
eram conversas quentes como o sol carioca. quentes e despretensiosas, descompromissadas. ela descobriu, então, que ele também era escorpiano. e como descobriu! se eles tivessem se encontrado naquela época, eu não sei o que teria acontecido. ela também não sabe. talvez por isso goste tanto dele. talvez ela precisasse encontrá-lo de novo, só para ver a mecha de cabelos nos olhos e ouvir aquela voz doce e firme, agora sob outro ponto de vista. pode ser que isso não mais aconteça. ou pode ser que ela o veja e o homem que idealizou não exista. mas não importa, é ele. de qualquer maneira, é ele!
parecia intenso, como ela. forte e sensível. seguro e desconfiado. um paradoxo, como ela. envolvente. misterioso. dominador. inconseqüente, como ela. era assim que ela o via, sem ter certeza de que era real, mas sem dúvidas de que o era. desconfiando do que idealizou, mas confiando plenamente no que o seu coração dizia. hoje, com a idéia de que nunca o terá em seus braços e com a certeza de que terá! sim, um paradoxo, como ele.
ela pode se apaixonar por outro qualquer, casar-se, ter filhos e viver feliz para sempre, mas ela sabe que aquela semente, que se tornou uma rosa vermelha e depois cheia de espinhos, hoje é uma flor seca dentro de um livro grosso e vai sempre estar lá, com ela. e será enterrada junto dela no fim da vida. ele vai sempre existir assim. e ela faria quase tudo por ele .................................
e o dia da estréia do blog junto à escolha do primeiro texto não são estranhas coincidências.

Um comentário:

Anônimo disse...

É verdade, reparei agora que dia é hoje. Quanto ao nome do blog, muito bom! Acho isso ai sensacional, cheio de significados e tudo mais. E o texto lindo!
beijos bem