sábado, 6 de março de 2010

trezentas e sessenta e seis cenas finais


metrô vila mariana. caos, pessoas indo e vindo molhadas da chuva de março de são paulo, voltando da faculdade de moda ou design de interiores, da escola. confusão visual. sonora também.

em meio à miscelânea de gente, escassez de espaço, de ar, de sutileza. escassez de noção. tortura para a mente. e para o corpo. e para o coração. ritmo descompassado, desesperado, deselegante, 'desbonito'. medo. medo de ser assim o tempo todo, a vida toda. medo de não realizar o sonho de fugir. medo.

um casal roubou a cena. não era um casal bonito, não era convencional. mas era. cada um de um lado da catraca. ele chegou. ela, sem dizer nada, esticou o braço direito entregando a ele um guarda chuva. os olhos dela profunda e intensamente fixos nos dele. ele, calado, pegou o guarda chuva. ficaram os dois ali parados, olhando nos olhos um do outro, mudos. ela lacrimejava. ele não sabia se ia ou se ficava. ou se atravessava a catraca e a beijava loucamente até que os olhos dela finalmente chorassem.

ele ficou. e assim, dessa maneira, estáticos, olhos fixos, permaneceram por quatro minutos. eu, assistindo, imaginei trezentas e sessenta e cinco cenas finais. menos uma. a mais decepcionante, para ela e para a platéia. ele foi embora. ela não se mexeu. os olhos dela finalmente choraram.

2 comentários:

Ivan disse...

putz, q triste! o cara podia dar um beijinho nela pelo menos... tomara q o guarda-chuvas tenha virado no avesso depois q ele abriu! huahuahua

Anônimo disse...

o.o' filme, livro ou vida real? :|